Bloco do Eu sozinho

Bem, então, ficamos a sós.
Eu e você, palavras,
Já tão intimas de tão dolorida
Já tão massificadas
Já somos quase a mesma pessoa

Palavras, que me levam e me trazem
Que me fizeram arriscar no escuro
5 grandes folhas em branco
Um grande erro?
Ou um acerto futuro?

Faço de cada gota de pranto
Uma letra de um texto pra você
Minha forma de me despedir
De aceitar o seu adeus
Que partiu minhas palavras
E consequentemente, meu coração.

Palavras que me tapam a boca
Palavras que me sufocam
Saiam todas de vez
Deixa sair o oceano inteiro
Preciso esvaziar-me

Já que mergulhei muito profundo 
Em amores muito rasos
E pelo vazio ainda incompleto,
Agora mais espesso, machucado, ferido,
Preencho-o com palavras
Mas não as dos outros 
Ou - as suas falsas -,
as minhas, 
feitas da verdade, 
da dor de ser, 
nuas e cruas,
minhas,
mas sempre,
feitas de um pedaço de você.

Que quis sair de mim,
Mas não sai da minha poesia.

 

Meu zé interior

Uma vez me disseram que era difícil lidar com a dor Zé, mas nunca me disseram que era impossível. Não essa dor física, sobre essa apenas coloco 3 ou 4 comprimidos brancos e arrendondados sob a palma das mãos e tudo estará bem de novo, enquanto eu estiver ainda com os analgésicos a meu favor.
Mas zé, essa outra dor, da qual quero te contar é muito pior, essa dor que cava um buraco pra dentro, esse redomoinho dentro do meu peito, essas pontadas toda vez que o mesmo nome me vem a cabeça. Eu nunca o tive, mas o perdi. E a dor da perda é com certeza a pior que um ser humano pode provar, o sabor amargo pela boca, pelo corpo, a amargura caminha pelos dias, arrasta tardes frias e só inverno mesmo que lá fora o sol borbulhe amarelo. É morrer por dentro e continuar vivo, se o conceito de estar vivo for apenas respirar, é claro, e feito com muita dificuldade, empurrando pra fora a única coisa que ainda me sobra por dentro, ar.

E não pense também Zé, que estou sendo egoísta o suficiente para tratar de morte com tal doloridão, já que isso não me cabe, a escolha é do relógio e de quem faz sua manutenção, se é que você me entende, não quero ser religiosa, ou te impor as minhas crenças, mas é que a morte é incontestável, a pessoa não escolhe ir, não prefere abandonar esse mundo de meu deus por um que não temos nem conhecimento. Só quem faz isso são os corajosos, e coragem demais, as vezes é um abismo.

Sim, deixe-me adiantar, estou falando de amor. Ou de como ele se manifestou em mim, de forma tão gigante que me tomou por todo o corpo, que me preencheu pra depois esvaziar, esvaziou cada centímetro cúbico, porque agora, diferente da morte, o meu amor escolheu ir, mesmo depois d'eu contar dessa dor que sambava no meu peito e que só ele quem podia dar melodia a esse samba velho, a esse pandeiro sem ritmo, era só ele.. E foi dai que tudo que me disseram um dia fez-se como verdade, não suportei a dor de perde-lo e agora não aceito mais nenhuma entrada. Assim não a portas pra ferimentos e nem pra preenchimentos. Deixe-me cá com eu mesmo. Acho que vou melhor Zé, acho que vou melhor com esse vazio, porque outra coisa que me disseram, é que se a gente fica mais leve, a gente voa. E eu sempre achei bonito demais quem voa sem se preocupar com o destino, com a chegada, com a partida. Tudo que eu sempre quis ser Zé, mas eu quis ser com ele. E ele escolheu ser saudade.
Ah, a vida foi tão injusta. E eu escolho o que hein? Escolho morrer de saudades ou viver com ela?

Ninguém disse que era fácil Zé. Mas acho que você entende. O amor um dia ainda sorteia a gente.

                                                              "E ela, que era dele, e agora, sem ele, não é ninguém."

Você e eu


Você me conta um segredo
Diz que não chora
Eu vejo a lagrima mas você ainda a ignora
Você diz que não sente
Acho seu jeito bonito
Solto
Pesado
Duro

Eu te faço uma poesia 
Guardo pra mim
Você acende um cigarro
Eu tusso com a fumaça
Você faz cara feia
Eu te olho nos olhos
Você tenta evitar
Eu juro que te amo
Mas você ainda quer provas
Eu viro as costas
Você não vem atrás
Porque no fundo, no fundo,
Sabe que eu vou voltar.

Quando janeiro acabou

Sempre quis ser a versa a emoções, exatamente como eu via que você era. Frio na medida certa. Recolhia pra si, qualquer sinal de interesse, amor, afeição e importância. E eu não via você perder nada com isso, pelo contrário, continuava intocado, estável e sem um arranhão.
Já eu, que sempre me entreguei demais, sempre muito aberta, pra amor, pra dor, pra ir, pra voltar. Sempre impulsiva, sempre escapulindo. Estava aberta, machucada, lotada de arranhões e cicatrizes, lotada de pessoas que eram só memoria e outras que não eu não conseguia deixar na lembrança. O apego também, tão distante de você, era a coisa que eu mais via em mim.

Pensei em um meio termo sabe..

Mas não se faz um meio termo sozinha, é que a gente forma o peso certo, as duas peças que se encaixariam perfeitamente. Pensei que podia te completar, porque eu também queria uma parte sua, pra preencher o meu vazio. O meu vazio que não foi você quem criou. Mas que ao partir, também deixou.

E quando janeiro acabou..

A gente foi junto. E não foi aos poucos, a gente simplesmente desabou. E eu nem tive tempo pra me acostumar, fui pega de surpresa. E você não deixou nem um bilhete na geladeira, ou uma mensagem no meu celular. Você só foi.. Como se fosse fácil. É, talvez cê tenha deixado minha metade largada por ai, e só levou o que te interessava, a parte que não sentia dor nenhuma em dizer adeus, a parte que mesmo me dizendo que o que mais queria era ficar, a parte que me disse que aquilo não tinha fim, não tinha meio, só tinha inicio, porque assim, cada dia ficava mais longe de poder se separar. E eu ria, e acreditava, e respirava uma felicidade falsa, construída de palavras da boca pra fora, palavras que só eram ditas pra que não se perdesse a mágica. Por que não a verdade? Seria tão doído? Será que não ia doer menos que um adeus que eu nem ouvi?

Outros meses vem e vão..

                                   Assim como as pessoas.
Sabe, esse é o meu adeus. Mesmo que você não tenha me dado um. Esse é o meu desapego, essa é a minha chance de ter aquela parte fria e contida sobre sentimentos. Aqui jaz, poderia dizer, uma menina que se entregava facilmente. Ela foi embora, junto com você, ela acordou diferente no primeiro dia de fevereiro. Ela olhou pra si e decidiu que merecia uma pausa, só o tempo podia consertar e curar tudo. Mas ela não tinha todo esse tempo, ela só tinha o hoje. E ao despertar, te deixou nos sonhos da noite passada, deixou de te lembrar, te deixou lá, em algum dia do janeiro passado, pra poder continuar aqui, nos onze meses restantes que tinha, até um novo ano, pra pedir por alguém que dessa vez, ficasse por alguns janeiros.

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