Não mexa com meu silêncio, se não puder lidar com meu barulho.



Você acha que eu falo demais? Tipo, te deixo sufocado? Não, nem responde.. Porque eu sei que vou me sentir mal depois. Eu tenho essa mania de perguntar e não ter coragem de ouvir a resposta. E isso é porque sou insegura, as versões alheias me confundem. Sou o que sou ou sou o que dizem? Sou é uma mistura, uma confusão, um retalho, uma montagem. Tenho cara mas não tenho face, mesmo que digam que seja a mesma coisa, não é. Em que espelho ficou perdida a minha face, Cecília? No que me reflete, eu espero.. Já que sempre esperei que eu fosse mais vista do que eu pudesse me ver, sempre quis ser, mas nunca fui. Também nunca cheguei a esse pensamento antes, há muitas coisas que eu jamais fiz, por medo, oras, por não serem compreendidas. Não sou eu quem dita as regras, o que está em jogo, o que está em moda, o que está certo. Sigo mandamentos e não me dou bem com eles. Por que os sigo? Oh, que ingenuidade. Quem é que quer ser o peixe fora d'água, baby? Já quis muito nadar contra maré, até uma onda maior chegar, a do conformismo. Me pergunto sempre, será mesmo que existe mudança, sem que se levante do sofá, sem sair da zona de conforto? Mas eu me calo, porque as pessoas dizem que eu falo demais.

Pensa..

Ainda me lembro de tudo que você esqueceu
E me lembro o quanto era meu
O jeito tão torto de ser
E que vê o mundo de um jeito só seu.

Ainda me lembro do show que a gente viu
E de como nosso lugar era ruim
E do amor roxo que você pintou em mim
E da conversa sincera pra dizer que acabou.

Ainda me lembro do que falavam
Que a gente ia pro altar 
Que não tinha pra onde correr
Eramos feitos pra durar.

Ainda me lembro do machucado que você me fez
E da música que você disse que era nossa
E da frase que escrevi no teu caderno
Pra te jurar amor eterno.

Não da pra esquecer você..
Não da pra esquecer..
Não da..
Pra voltar?



Cartas endereçadas a ninguém (Parte 2)

                                                                                "Heaven is a place on earth with you.."

                                                                                                    Novembro, 24
Não sei o que pesa mais sobre minha cabeça. Minhas ultimas decisões ou o teto de marfim escuro prestes a desabar. Era o melhor que eu tinha encontrado pra passar a noite, eu sei, também não podia dormir em qualquer hotel a beira da estrada, mas esse mesmo que no centro, parece que não recebe alguém a séculos. A água era fria porque o registro ( é esse o nome daquele treco que faz ficar quente?) tinha queimado e ninguém quis vir trocar, a cama é dura e amanhã tenho que me virar pra tomar café da manhã, porque nem isso aqui tem. E eu sei que vai me reclamar que estou agindo como uma filhinha de papai, mas todo mundo merece conforto, ainda mais depois de tudo que eu passei hoje. Aliás, eu não sei porque continuo te escrevendo. É o meu modo de fugir da realidade que ando enfrentando, eu acho.. É tão mais fácil só despejar as palavras pra você que me deixar enfraquecer ou abalar. Eu sempre quis ser durona demais. E que mesmo abalada, prestes a cair, não me deixo fragilizar. Eu não falo o que eu sinto pra quase ninguém, exceto você. E não sei que diabos de feitiço foi esse, mas eu não consigo te largar.. Mesmo quando você me pede distância, me pede pra te deixar em paz com as novas coisas que você construiu e eu sinto muito se eu não consigo, porque eu só sei destruir tudo que tenho depois de você. E preciso tirar esse espirito de mim. E é por isso que eu viajei quase 500 km de carro sozinha, pra uma cidade no meio do nada, sem celular (que é pra ver se olha mais pra dentro..) e sozinha. E eu só fui indo e indo na rodovia principal sem destino programado.. Mesmo que no fundo eu quisesse passar por lá e bater na sua antiga casa só pra dar oi pra sua mãe e comer aquela torta de maça sem igual, ou fazer ela ligar e te pedir socorro, falar que meu pneu furou enquanto eu ia pra uma cidade próxima em uma audiência e que precisava de um homem pra fazer esse serviço.. E quem melhor que você pra me tirar dessas enrascadas que eu vivo me metendo? Uma pena, lembrar que pra você vir, ia deixar sua mulher na cama te esperando preocupada ou seu filho sem alguém pra brincar ou conversar, ou seja lá o que foi que você construiu ai, e deve ser bem melhor do que eu ando tendo. Esse buraco negro que só me leva tudo que me importa e que me deixa só. Até quando eu vou afastar as pessoas que amo de mim? Até quando as palavras vão ficar presas na ponta da língua, ou, do papel? Até quando hein? Eu preciso de alguém que me segure, Rodrigo, mesmo quando a coisa que eu mais tente seja fugir e fugir, até chegar onde estou. Num hotel melancólico no centro, com o teto prestes a desabar sobre a cabeça, mesmo que eu já tenha desabado a tempo..
                    E eu sei que nada disso é problema seu, mas eu precisava que você soubesse que existe desse jeito em alguém, como existe em mim.
                            Júlia.
                                           "I belong with you, you belong with me."

Novembro, 11.
Eu não queria te escrever nada, também não queria gostar de você do jeito que eu gosto, mas acho que em ambas as coisas não tenho escolha. Mudei a letra e algumas ideias de lugar. (Não que eu esperasse que você reparasse). Aliás, não era esse o discurso? "Você espera tanto de mim, cria tanta expectativa, sou eu ou uma fantasia que você tirou dos seus livros?" Era você. Sempre foi. E eu sempre imaginei tudo, por que é que com você tinha que ser diferente? Eu não te exigi nada além de ficar, de não ir pra tão longe.. E mesmo você dizendo que a escolha não seja sua, ah meu bem, ela é.. Existem tantas distâncias, não só a geográfica  existe essa que a gente sente muito mais.
Por onde anda você que eu não esqueço? Cade você que não me lembra? 
Me acostumei com não te ver, mas com não te ter.. Ah, ai você pede tanto..

Fez um ano. Trezentos sessenta e alguns dias. E isso parece tanto tempo! Se eu me perdesse nos dias, podia jurar alguns anos, até. Meu deus, porque a gente se perdeu assim? Só me responde isso vai.. Quanta coisa a gente perdeu de viver, de ser, de fazer acontecer. Quantas vezes eu esperei por uma volta, uma prova, uma ilusão.. Pensei em comprar passagem, inventar uma viagem, só pra te ver.. Mas como que eu ia saber, se você queria me ver? Estampei minhas certezas e esperei você notar, e se perguntar, por onde que anda aquela garota indecisa? 

Ela anda por algum lugar. Talvez perdida em algum dia do novembro passado, mas, não aqui.
Aqui só existe alguém que clama por você, até quando o novo novembro acabar, até quando mais anos se passarem, até quando ela se apaixonar de novo, tem algum lugar nela, que sempre vai ter uma parte do primeiro amor, que arrancou tanta coisa e que só assim deu espaço pra ser quem ela sempre quis.  Mas, também precisa-se saber, o que foi que aquela garota deixou em você?

Feliz um ano, juntos, meio-termo e separados. Feliz, porque é assim que me sinto com você.




Sinto sua falta, 
                                      Júlia.

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