Let it be.

Cuidado comigo,
Tenho ganhado uns goles de amor próprio a cada dia que passa. E tenho as vezes, tomado um copo ou outro de uma bebida ardente, que me faz parar de chorar por você, que me faz até te esquecer, enquanto danço e rodopio no salão onde ninguém me conhece, me sinto livre de você. E você não sabe como me sinto bem. Danço alegre e despretensiosa, coisa que se estivesse ao meu lado já teria ordenado que eu parasse, que parasse de fazer papel de boba. E mesmo que eu ame dançar, ame ver como os meus cabelos voam, eu pararia. Porque eu sempre gostei de te mostrar que eu era completamente sua. Como eu sempre gostei de ser perfeita para você. Já achei até graça de como era grosso, sobre algumas experiências já até pensei que amava esse seu jeito áspero. Mas não amo. E demorei tanto tempo pra perceber que eu só não queria aceitar que você tivesse defeitos, não queria aceitar que podia gostar um pouco menos de você. Me enganei. Mesmo sóbria. Mesmo lúcida. Quis me agarrar a essa ilusão com carne, unhas e dentes. Mas eu sequer me questionei, estou feliz com isso? Sequer me questionei se não me cansava de mendigar aquele amor, de mastigar cada palavra de fúria, e dizer um é claro meu bem, no lugar. De te encher de elogios, cartas, palavras bonitas e sempre receber o mesmo olhar, a mesma frieza, os dedos secos sobre os meus, como a obrigação cumprida. Hoje quem quer cumprir a obrigação sou eu. A obrigação de me amar, a obrigação de desapegar de coisas tão antigas, que por ter medo de novas, ainda me apego a elas. Estarei mentindo se disser que não te amo, mas amo muito menos. E tendo a amar cada vez, menos, e menos e menos.
Cuidado comigo,

Cada dia sou menos sua.

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